Preparação: Veneno para o motor Volkswagen Boxer Air Cooled
Preparação: Veneno para o motor Volkswagen
Sem muitos recursos, é possível deixar qualquer carro com motor VW a ar mais veloz, basta seguir as receitas dos preparadores consultados por VCars.
Durante a realização de nossa última reunião de pauta,
quando decidimos a natureza das reportagens que seriam publicadas na
próxima VCars, alguém deu a sugestão:
preparar um texto sobre veneno para o motor Volkswagen a ar.
Acreditamos que a idéia, apesar de não ser nova, sempre desperta o
interesse dos nossos leitores e, por este motivo, optamos por colocá-la
em prática, contando para isso com o apoio técnico de três famosas
oficinas de preparação.
Porém, quando se trabalha
com este tipo de pauta, normalmente são enfocadas receitas de “venenos”
médios ou pesados que, com toda certeza, estão longe da realidade
econômica da grande maioria dos entusiastas. Assim, com a intenção de
democratizar esse serviço, resolvemos estabelecer alguns parâmetros
básicos, caso do valor gasto nas peças empregadas, que não poderia
exceder R$ 3 mil. Apesar da limitação financeira,
nossa meta era obter cerca de 100 cv (SAE) do motor VW 1600 a álcool
que, com dupla carburação Solex 32, desenvolve cerca de 65 cv (SAE) a
4.600 rpm.
Além disso, tendo em mente que a utilização do
carro seria predominantemente urbana, a vida útil do motor, a marcha
lenta e o consumo de combustível deveriam ser semelhantes aos originais.
Também pedimos que fosse dada preferência aos componentes de fabricação
nacional, facilitando assim não só a compra, mas também a localização
dos itens de veneno. Nossos colaboradores teriam ainda de informar a
marca, o modelo e o tipo das peças utilizadas, mas sem o compromisso de
revelar o valor da mão-de-obra, que é variável e não influi nos
parâmetros pré-estabelecidos.
ELEGENDO ITAMAR
Marcelo Jesus Perez, da Sportystem Drag Racing Team, nos forneceu uma receita de motor
aspirado tendo como base o 1600 do Fusca Itamar, equipado originalmente
com alternador e sistema de ignição eletrônica. Trata-se do motor mais
“moderno” que já equipou nosso besouro, só sendo superado pela unidade
“injetada” que equipou as últimas Kombi a ar, razão pela qual também foi
considerado ponto de partida para os demais projetos.
Segundo
Marcelo, para obter um bom resultado, é necessário adquirir comando de
válvulas Federal Mogul ou Engle (americanos) de 284 graus, filtros de ar
esportivos Sportsystem, jogo de juntas motor Sabó, óleo 20/50 mineral,
bomba de óleo Shadek com engrenagem de 30 mm (a original tem 24 mm),
flange para filtro e filtro de óleo Empi H1 (americano) e escapamento
dimensionado 4x1 com abafador. No tocante à mão-de-obra, é preciso
aliviar o peso do volante do motor, balancear o conjunto de
platô/volante/virabrequim, retrabalhar os dutos dos cabeçotes,
retrabalhar as câmeras de combustão e rebaixar os cabeçotes para obter
uma taxa de 13:1.
A receita de Marcelo para o motor turbinado
emprega turbina Biagio ou Master Power (com caracol frio 48 e caracol
quente 35, que trabalhará com 0,8 bar de pressão), bomba de combustível
elétrica Bosch (“do Gol GTI”), jogo de velas NGK (BR9ES rosca longa ou
BR9HS-10 rosca curta, dependendo dos cabeçotes), mangueiras de
combustível Goodyear (de 7,0 mm ou 8,0 mm, do tipo usado em sistemas de
injeção), filtro de gasolina Bosch (também para motores com injeção),
kit Sportsystem (com flange de filtro, filtro e radiador de óleo) e
mangueira Goodyear Ortac.
NOVAS BORBOLETAS
Denis
Mangone, da Champcar, também indica comandos entre 270 e 280 graus (com
“lobe centers” de 108º acima, para obter marcha lenta e boas respostas
nas acelerações), de marcas como Sobe e Sam Cams. Sugere ainda a
instalação de molas duplas no cabeçote (evitando assim a flutuação das
válvulas), bastando para isso colocar as molas utilizadas no motor AP
(menores) dentro das molas do motor a ar (maiores).
Como já foi dito
anteriormente, Denis citou a troca do escapamento por um 4x1 com
abafador e a substituição dos filtros de ar por outros esportivos, mas
do tipo “cônico de turbinas”, de fabricação nacional. A bobina original
deve ser trocada pela do Gol MI, que gera alta voltagem e facilita a
queima do combustível, inclusive nas partidas a frio. Independente da
marca, também devem ser empregados cabos de velas de alta indução
siliconizados, bem como velas frias de grau térmico 8 ou 9.
Em termos
de mão-de-obra, foram lembrados o retrabalho do cabeçote, com posterior
análise em banca de fluxo, a fim de obter uma perfeita equalização
destes e a correta porcentagem da vazão dos gases de admissão em relação
aos gases de escapamento. Os carburadores Solex, mantidos para não
exceder o orçamento, deverão ter as borboletas de 32 mm substituídas por
outras de 36 mm, enquanto os difusores (venturis) originais, de 22 mm,
têm de ser substituídos por outros de 26 mm. Já para os motores
turbinados, a sugestão é empregar um dos vários kits encontrados no
mercado nacional, que usam turbinas como Garret, Holset e KKK.
MAIS MUDANÇAS
Não
fugindo nos detalhes básicos dos exemplos já apontados, Marcelo
Romanholi, da Roman Racing, indica a utilização, em motores aspirados,
do comando de válvulas da Kombi a álcool que, com toda certeza, irá
colaborar para baixar os custos da preparação. Outro ponto no qual sua
receita diverge das demais é no emprego do disco de embreagem do
utilitário, bem como na utilização das válvulas originais do esportivo
SP2 (com 40 mm para admissão e 33 mm para escape).
Vale citar que,
para as sugestões aqui publicadas (ou qualquer outro tipo de veneno), é
necessário ter um motor em boas condições. Caso o propulsor apresente
sintomas como queima de óleo, barulhos internos ou folga ao se manusear a
polia da árvore de manivelas (virabrequim), é interessante realizar uma
retífica em conjunto com a preparação. Muitas vezes, inclusive, o
preparador chega a exigir a troca do bloco e dos cabeçotes por outros
novos, sem os quais não realiza o serviço, pois não pode para garantir a
integridade do motor.
Esta política, embora salutar, aumenta em
muito a despesa geral, mas é um preço pequeno a se pagar para não ter
surpresas desagradáveis no futuro. As grandes lojas costumam ter estes
itens em estoque, caso da PKR Comércio de Auto Peças, na qual
encontramos o bloco sendo vendido por R$ 2.050, enquanto os cabeçotes
custavam R$ 410 cada. Ambos os itens são originais Volkswagen, mas o
primeiro é absolutamente standard, sem peças periféricas, enquanto os
cabeçotes são fornecidos com válvulas e molas. Como consolo, vale citar
que estes valores, por meio de cartão de crédito, podem ser parcelados,
prática comum a outras lojas do gênero espalhadas por todo o Brasil.
CUIDADOS ESPECIAIS
O
serviço de preparação leva entre 10 e 30 dias para ficar pronto, não
contabilizando, necessariamente, as alterações que devem ser feitas no
restante do veículo. Preferencialmente instale um conjunto a disco nas
quatro rodas, com discos frisados e pastilhas especiais. Caso isso não
seja possível, o mínimo a se fazer é revisar todo o sistema,
inspecionando pastilhas, discos, lonas, tambores, flexíveis e demais
componentes, além de trocar as peças desgastadas por itens novos e de
marcas idôneas, nacionais ou importadas. O uso de fluído de boa
qualidade, com especificação dot 4, também irá contribuir para a
segurança do veículo.
Após a realização do serviço, apesar da
vontade de testar os novos limites do carro, o motor não deve ser
forçado desnecessariamente. Assim, na primeira partida do dia, nunca o
acelere a fundo, fazendo o propulsor atingir mais de 2.000 rpm antes de
estar perfeitamente lubrificado. Outro cuidado importante é cuidar para
que a rotação máxima de cada marcha nunca seja ultrapassada, fazendo o
controle com o auxílio de conta-giros. Como cuidado extra, o óleo deve
ser trocado em intervalos mais curtos, assim como seu filtro. Por fim,
cabe um lembrete talvez um pouco óbvio, mas que pode evitar muita
confusão: lembre-se que as ruas não são pistas de corrida.
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